A pauta de Deus




"Se você tiver de morrer, é melhor morrer no Times”

A. M. Rosenthal 



Para muita gente, é mais negócio ter um bom obituário no New York Times do que ir para o céu. Há uma grande chance de, aqui na Terra, ele dar a última palavra a respeito de suas vidas. 

A seção de obituários do Times é uma cerimónia de adeus diária de bom jornalismo e uma das campeãs de leitura do jornal mais influente do mundo. Há quem pense que a valorização do obituário pela imprensa de língua inglesa seja um ritual de morbidez, mas essa é uma impressão falsa. 

Um obituário é quase sempre uma ode à vida — ainda que reitere a brevidade de tudo, ao tomar o ponto final da existência como ponto de partida do jornalismo. 

 



 

Houve um tempo, na imprensa americana, que o cargo de city editor era quase tudo numa redação, sobretudo em cidades "jornalísticas" por excelência, como Nova York e Chicago, O editor de cidades tinha sob seu comando o maior número de repórteres e era ali, no city desk, que se media a pulsação do jornal. O baixinho texano Stanley Walker — de doze a vinte doses de uísque, sem perder a pose, nos seus melhores dias — talvez tenha sido o mais carismático jornalista a ocupar essa posição em Nova York. Ele anotou em um de seus preciosos livros, que leva justamente o nome de city editor (1934): "Escrever obituários, especialmente os de pessoas incomuns, é um dos trabalhos jornalísticos mais difíceis. A pesquisa precisa ser tão meticulosa quanto o tempo permitir, mesmo que isso acarrete visitas aos amigos do defunto e a leitura de uma ou duas biografias. Quase nunca temos a necessidade de apresentar o morto como um santo ou um monstro: é possível, com todo o respeito pela alma que talvez esteja na soleira do inferno, ser realista, até mesmo picante, sem ser injusto ou cruel. Os parentes que continuam vivos geralmente apreciam esse jeito de lidar com os que morreram. Os melhores amigos do morto serão capazes de fechar o jornal e dizer 'esse era o Abner que conheci em vida'".

Aos 64 anos, Stanley Walker suicidou‒se em seu rancho de Lampasas, Texas, em 25 de novembro de 1961. Não deu tempo para a nova geração de obituaristas que estava prestes a ser parida pelo seu concorrente New York Times ‒ Walker era do período mais brilhante do New York Herald Tribune ‒ render homenagem ao jornalista emblemático de uma época que ele foi, época que encontrava nos nightclubs a continuação das atividades das redações.

Para construir as melhores páginas do ramo, um periódico precisa conhecer bem as pessoas de sua época. Não é tarefa fácil. Uma genuína seção de obituários não traz mais apenas as vidas das mulheres e homens que tiveram, algum dia, seu retrato (ou um montão deles) publicado pela imprensa enquanto viviam. Ela conta também, com extraordinário interesse, a vida de milhares de pessoas que fizeram alguma diferença e que não são conhecidas ou reconhecidas pela maioria dos leitores. 

O jornal bem informado não só descobre o lixo que está embaixo dos tapetes e os esqueletos dentro dos armários daqueles que viajam na primeira classe. O jornal bem informado conhece uma população significativamente grande de sujeitos formidáveis e quase anônimos que foram ou são agentes de grandes mudanças na vida real: gente que leva aos pobres um pouco de pão e consolo, que salva vidas, que descobre coisas que mudam radicalmente os aspectos práticos da nossa existência, gente que ganha pouco para ensinar muito, que realiza conquistas decisivas sem dar sinais exteriores de que valoriza o culto à própria personalidade. Para muitas pessoas de bem, a página de obituários será uma das únicas chances de aparecer no jornal com alguma dignidade. 

Como diz Bill McDonald, o atual editor de obituários do Times, "de certa maneira, os melhores obituários são aqueles que nos falam de pessoas sobre as quais nós nunca tínhamos ouvido falar, e nos deixam chateados por não termos tido a chance de conhecê-las". 

 



Os obituários consagrados são impressos pelos jornais da ponte aérea Londres—Nova York, mas a tirada mais marcante da atividade foi cunhada por Richard Pearson, um obituarista do Washington Post, que conhecia de cor e salteado o nome dos caubóis e seus cavalos. A frase está na mesa de trabalho de onze entre dez obituaristas em todo o mundo: "Deus é o meu pauteiro".

Ele morreu de câncer no pâncreas aos 54 anos, em 20 de novembro de 2003. Pearson preferiria que seu obituário perpetuasse aversão de que ele teria sido morto por um marido ciumento.

Richard F. Shepard observa que, no Times, cedo ou tarde todo repórter acaba fazendo obituários. Editor da seção por um ano, em 1986, liderando uma equipe de meia dúzia de repórteres inteiramente dedicados à página, ele dizia que redatores "de obituário são repórteres contemplados com ampla visão, sensibilidade para perceber, sede por detalhes e abundância de estilo [ao escrever]". 

Em seu livro sobre o New York Times, ele conta que o jornal passou a valorizar mais os obituários quando uma das duplas mais talentosas que frequentou a agora antiga redação da rua 43 — formada pelo editor A. M. Rosenthal (um dos poucos jornalistas a receber chamada de capa do Times quando seu obituário foi publicado) e pelo assistente Arthur Gelb — começou a revolucionar a editoria metropolitana. E a colecionar ressentimentos internos, como costuma acontecer em todo processo de profunda transformação em grandes publicações. A própria mudança do nome da editoria, de "cidades" para "metropolitana', refletia uma expansão geográfica da cobertura do setor e uma medida do crescimento do prestígio de Rosenthal dentro do jornal. 

Em 1963, eles pediram a Shepard, então repórter de geral, que reescrevesse o obituário de Jean Cocteau, morto naquele dia. "Rosencrantz" e "Guildenstein" (ou Abe e Artie), como eram chamados pelos repórteres, lançavam a pedra fundamental de uma nova era para a seção de obituários do Times. Ela se tornaria, dali para a frente, uma das vedetes do jornal. E, apesar das lágrimas que cercam as circunstâncias de suas matérias, viria a ser um dos mais felizes momentos do jornalismo literário na imprensa diária.

Abe Rosenthal e Arthur Gelb gostavam de artigos bem escritos e eram fãs do estilo mais literário de fazer jornalismo da revista New Yorker. Eles se indagavam se haveria uma maneira publicar, no jornal, algo parecido com a coluna "Talk of the town". Assim que Rosenthal se tornou editor, um dos maiores aumentos de salário que ele deu foi para Gay Talese, na época um jovem repórter inconformado com as padronizações de texto realizadas pela bancada de copidesques (ele cresceu de Us$ 208,50 para Us$ 280,00 por semana). Conforme revelou a pesquisa feita por uma firma de consultoria organizacional, o novo editor metropolitano era suspeito de incentivar a permuta de informações importantes dos lides por textos mais atraentes aos leitores. Ex-correspondente em Tóquio, Rosenthal conta que uma de suas primeiras descobertas em seu novo cargo era que Deus estava sob a jurisdição do editor metropolitano: sob sua tutela estavam a cobertura religiosa e a seção de mortes. 

No prefácio de Great lives of the twentieth century, ele dá a receita para se conseguir um obit lapidarmente consagrador no Times: se você for morrer durante a semana, morra antes do meio-dia ou no mais tardar às catorze horas, pois haverá tempo suficiente para se "fazer justiça". Caso contrário, sua morte correrá o risco de entrar na correria do fechamento e acabar rendendo um texto incompleto ou de pouco destaque na página, quando não as duas coisas juntas. Procure também não morrer aos sábados, pois nesse dia o jornal fecha mais cedo. Quando iniciou as mudanças na editoria, ele queria um obituário com informações garimpadas com exclusividade, um avanço no setor, e uma narrativa com mais cores do que os relatos biográficos que repousavam prontos nos arquivos. Até então, os obituários eram sem dúvida muito bem-feitos, mas quase sempre se resumiam a uma litania empilhando fatos da vida de pessoas conhecidas e/ou consideradas importantes pela direção do jornal.

O animador das inovações na página de obituários foi o então assistente de secretário de redação Clifton Daniel, que passou a pedir aos repórteres um mergulho mais profundo nas histórias "de vida vivida" e um texto escrito pela mão de um "artista".



Em 1964, um dos melhores homens da brigada de copidesques do jornal foi escolhido para, como alguns editores mesmo brincaram, dar nova vida à página de obituários do New York Times. Seu nome era Alden Whitman, mas, como era de se esperar, ficou conhecido por vários apelidos relativos à sua atividade ligada aos defuntos. Em um perfil escrito em 1966 para a Esquire, Gay Talese aumentou a lista chamando-o de Sr. Má Notícia (esse perfil está no livro Fama e anonimato, desta coleção Jornalismo Literário, da Companhia das Letras). Canadense de nascimento, ele trabalhou no Trib antes de ingressar no Times e foi membro ativo do Partido Comunista entre 1935 e 1948 — e por isso teve a sua vida atazanada no período em que o jovem senador pelo estado de Wisconsin Joseph R. McCarthy tornou a caça a esquerdistas um dos esportes preferidos da América. Obrigado a depor na comissão do Senado, ele se recusou a entregar outros membros do partido. "Se eu o fizer", disse ele à comissão, "minha sensação é que eu tenderia a perder o respeito por mim mesmo e a consciência sobre essa questão." Até a paranóia anticomunista diminuir a pressão sobre a imprensa, o Times o tirou da posição de chefe da bancada dos copidesques. 

Alden Whitman é o pai do obituário moderno na imprensa americana, mas, como ele mesmo conta, a grande sacada que virou o mundo dos obits de ponta-cabeça foi uma sugestão de Clifton Daniel: os futuros obituariados passaram a ser entrevistados sobre os fatos mais marcantes de suas vidas ("Nós vivemos entrevistando as pessoas, por qualquer razão; por que não deveríamos entrevistá-las para os obituários?", perguntou Daniel). Era uma daquelas idéias revolucionariamente óbvias que de tempos em tempos mudam o jornalismo para melhor.

O primeiro entrevistado renderia um baita obituário em qualquer circunstância: o ex-presidente americano Harry Truman. Mesmo sabendo que essa escolha tinha um quê de arranjo familiar (Truman era sogro de Daniel), ele conta que a missão inédita de entrevistar alguém para a sua matéria de adeus foi bastante desconfortável. Nas tratativas, Alden Whitman jamais usou as palavras "morte" ou "obituário". Em uma manhã do inverno de 1966, ele encontrou-se com o ex-presidente na biblioteca Harry S. Truman, em Independence, no estado de Missouri. Depois de um pequeno bate-papo, Truman aliviou a tensão entre os dois dizendo "eu sei por que você está aqui e vou ajudá-lo da melhor maneira que puder". Deu-lhe uma mãozinha federal: chegou a colocar Whitman em contato com o homem que estava encarregado de planejar o seu funeral.

Com Alden Whitman, o padrão de jornalismo da página de obituários do New York Times passou a ser reconhecido como um dos melhores de que se tem notícia na imprensa internacional. Gay Talese observa que ele moldou pela primeira vez a imagem do obituarista como um profissional realizado em sua vida anônima e em seu "pequeno mundo de meio-vivos e meio-mortos" — em contraste com toda uma tradição arraigada dentro da própria imprensa que considera a seção de mortes um deserto de bons jornalistas (o estigma persiste: no filme Closer, o personagem vivido por Jude Law diz trabalhar na "Sibéria do jornalismo"; ele é redator de obituários de um jornal londrino). Hoje em dia, uma vaga na editoria de obituários no Times é objeto de cobiça. Margalit Fox, uma das atuais estrelas da página, ficou anos esperando por uma oportunidade para trabalhar ali. 

Fazer entrevistas que só serão publicadas após a morte das pessoas entrevistadas tem suas vantagens: elas se sentem mais à vontade para falar sobre passagens embaraçosas de suas vidas. A política do Times é de fidelidade irrestrita ao embargo negociado com o entrevistado, ainda que o jornal tenha de manter silêncio por algum tempo sobre informações de interesse público. Além disso, ao dar a oportunidade para o biografado apresentar o seu lado da história, essa modalidade de entrevista é também conveniente por promover um ato de equilíbrio editorial antecipado, uma vez que, depois do obituário publicado, ele não terá chance de enviar uma carta à redação para reparar eventuais injustiças. 

Whitman desenvolveu uma técnica específica para as entrevistas. Tendo chegado à conclusão de que o melhor que poderia extrair era uma "série de impressões sobre a pessoa", antes do encontro ele se dedicava à lição de casa pesquisando todo o material biográfico disponível. Assim, durante a entrevista, podia "concentrar-se na observação e no registro das maneiras, nas atitudes, nos pontos de vista, na personalidade e, nos momentos certos, trazer à tona os temas que queria elucidar". Ele observa no prefácio da antologia de obituários Come to the judgement: "Eu sempre fiquei impressionado pelo quanto uma pessoa revela de si mesma sem se dar conta, em uma conversa semi-estruturada".

Graças às entrevistas para a página de obits, Whitman orgulhava-se de ter viajado mais e ter conversado com mais personalidades do que qualquer outro repórter do Times. Entre os notáveis que entrevistou, estavam Ho Chi Minh, Juan Domingo Perón, Charlie Chaplin, madame Chiang Kai-shek, Charles Lindbergh, Joseph Kennedy, Henry L. Luce, Pablo Picasso, Bertrand Russel, Graham Greene, Henry Miller, Vladimir Nabokov e Samuel Beckett, aquele que se recusava sistematicamente a falar com jornalistas. Na sua época como editor da página, o jornal tinha prontos no arquivo 2 mil obituários de pessoas vivas, os quais eram revisados e atualizados periodicamente (esse número é bem menor hoje em dia). Entre 1964 e 1976, ele escreveu cerca de quatrocentos obituários.

Alden Whitman dizia que um bom obituário não era uma biografia ou um ensaio acadêmico, nem mesmo um tributo. O bom obit seria algo difícil de definir, pois era uma espécie de retrato instantâneo do sujeito. "Ele não revela tudo, ele transmite uma impressão vívida e precisa. Se o instantâneo é claro, o leitor tem uma rápida visão do sujeito, de suas conquistas, de suas fraquezas, de seu tempo." O que é necessário para escrevê-lo? Tempo, paciência, profundidade e um pouco de habilidade com as palavras — mercadorias cada vez mais escassas no jornalismo diário.

Alden Whitman morreu no Hotel de Paris, em Monte Carlo, em decorrência de um derrame. Ele estava lá com a mulher para as comemorações dos setenta anos do crítico gastronómico do Times Craig Clairborne. O obituário de Whitman, sem assinatura, em 5 de setembro de 1998, ocupou três colunas no alto da página com um "boneco", a foto de seu rosto, de uma coluna); as duas colunas da esquerda desciam até a dobra da página e a última coluna tinha cerca de catorze centímetros de altura. Pelos padrões do Times, um tratamento de alta consideração, embora o texto não honre os clássicos da seção. O título: "Alden Whitman, repórter dos obituários do Times, morre aos 76". O jornal chancelava definitivamente o legado de Alden Whitman: o obituarista como um jogador do time da reportagem. 

Em The dead beat, livro que flana pelo boom dos obituários na cultura de língua inglesa contemporânea, Marilyn Johnson mostra que a tendência de os jornalões adotarem os obituários de "pessoas comuns que fizeram coisas incomuns" ganhou relevância no início da década de 80 com Jim Nicholson, no Philadelphia Daily News. Até então, essa era uma prática restrita aos jornais de comunidades menores, onde todas as pessoas praticamente se conhecem e, portanto, justificam-se os obituários de “pequenas vidas bem vividas”, como as chama Nicholson. “Em dezenove anos ele encontrou algo extraordinário para dizer sobre mais de 20 mil pessoas comuns que moram em Filadélfia”, dia a autora.

Jim Nicholson explica que, como os outros editores não davam bola para a seção de obituários quando ele começou a trabalhar nela, em 16 de outubro de 1982, havia mais liberdade por lá. Então passou a contar histórias de gente parecida com ele, escrevendo-as no estilo de uma coluna pessoal. "Você tem muitas redações onde os jornalistas não se parecem, não se vestem, não comem ou não falam como as pessoas que eles cobrem em suas reportagens. Como é possível mergulhar nessas histórias se você não sabe para quem você está olhando?", pergunta. A página de obits do Philadelphia Daily News se tornou um sucesso regional e, em 1987, a Sociedade Americana de Editores de Jornal (ASNE) inaugurou um prémio relativo à categoria obituários especialmente para poder contemplar Nicholson. 

Ex-detetive particular com folha corrida de grande repórter investigativo, ele trouxe para o género o espírito da diligência inquisitiva. Jim Nicholson diz que não existem pessoas maçantes, apenas "perguntas maçantes". Ele fazia entrevistas intensas com os familiares e amigos para obter declarações, idiossincrasias, características pessoais que revelavam parte da alma - finalmente liberta - do obituariado, base de seus textos generosos em detalhes e cm tonalidades. Para ele, a força dos obits está em mostrar a extrema singularidade de cada existência. O bom obituarista fica ruborizado diante do lugar-comum: é a dessemelhança que torna a humanidade mais ampla, uma vez que o final do filme, já se sabe, será o mesmo para todos.

Nicholson tinha acordo com o jornal que garantia a ele três ou quatro meses sabáticos por ano, nos quais trabalhava para os serviços de inteligência como espião - no Panamá, no México ou no Tajaquistão. Quase vinte anos escrevendo sobre a vida dos outros mudaram radicalmente a sua: "Quando deixei a redação naquela tarde de 30 de maio de 2001 - escreveu em 2006 -, eu o fiz acreditando que a maioria dos homens e das mulheres é boa, que a maioria, quando tem uma oportunidade, fará a coisa certa e que a maioria mostrará ser honrada".

Aposentado, depois de muitos anos separado da mulher, com a qual não viveu bem, soube que ela estava com Alzheimer e resolveu dedicar o resto da vida para cuidar dela. Eles moram em Cherry Hill, Nova Jersey. O nome dela é Betty Jo - quando casados, ele a chamava de Jo; hoje, é Betty: "Ela é uma pessoa diferente agora, a filha que eu nunca tive", explica. 





Porter Harver era especialista amador em filmes de monstros; percorreu o longo e "preguiçoso" rio Mississippi em um pequeno barco aos 82 anos e, aos noventa, foi a pessoa mais velha até então a praticar bungee jumping. Seu jornal, o Guntersville Advertiser-Gleam, era um terrível anacronismo em termos gráficos, não tinha separação por editorias e, no entanto, sua leitura era bem-humorada e irresistível. Era distribuído duas vezes por semana na minúscula Guntersville, encravada no vale do rio Tennessee, no Alabama. O detalhe é tudo em um obituário, dizia Harver, que morreu de câncer pancreático aos 91 e era craque na arte de fazer jornais de comunidades pequenas. Seu próprio obit, um dos nove que saíram em um dia de março de 1995, dizia que a publicação "era de longe mais rica em detalhes nos obituários do que o resto dos jornais". O periódico com os obituários hiper-detalhistas foi um dos mais curiosos cases de marketing da indústria jornalística americana: a cidade tinha 7 mil habitantes e o Gleam, 12 mil assinantes - com índices caninos de fidelização dos leitores.




O primeiro eufemismo foi, como uma espécie de pecado original, para a palavra morte, que não se usava. "Foi chamado por Deus", "passou desta para melhor", "nos deixou"..., enfim, havia várias maneiras de não mencionar a "iniludível", como a saudaria o poeta Manuel Bandeira. Depois que um toque de humor entrou para o mundo dos obituários, principalmente os londrinos, o eufemismo também se modernizou: "partiu desta vida na sua Harley-Davidson", "foi pescar com Jesus. Numa sexta-feira!". Inicialmente, os obituários americanos eram enviados aos jornais por parentes ou amigos dos mortos, e por isso tinham a forma de tributos: eram escritos com palavras polidas e saíam repletos de elogios ao defunto. Aos poucos, os redatores passaram a fazer os obituários utilizando-se das técnicas jornalísticas que começavam a se desenvolver. Nesse processo, apareceram, aqui e ali, aspectos socialmente menos aceitos da vida dos biografados, mas quase sempre em sotto voce. O eufemismo faria do obituário a sua confeitaria. 

Como dizia lorde Noel Annan, que foi diretor da Biblioteca de Londres e vice-reitor da Universidade de Londres, os "connaisseurs dos obituários sabiam ler nas entrelinhas". Era assim: "' ele morreu de repente', era um eufemismo para suicídio; 'ele morreu sem se casar', bem... as pessoas poderiam interpretar como achassem melhor". O obituarista de Closer revela, para a garota americana que encontrou nas ruas de Londres, alguns de seus códigos: "era um sujeito festivo' significa que ele era alcoólatra; 'ele valorizava sua privacidade' gay; 'ele gozava sua privacidade - retumbantemente gay". Em um possível Dicionário da maneira suave de dizer as coisas de Hugh Massingberd, o mais festejado dos obituaristas londrinos, um nazista poderia ter sido alguém "sem entusiasmo perceptível pelos direitos civis" e um rufião, um "poderoso negociador". Para James Fergusson, outro inovador no mundo dos obituários londrinos, Massingberd criou a "subversão do eufemismo". 

O eufemismo deixou de ser uma forma de amenizar e de evitar constrangimentos, e se tornou um jogo de linguagem intencional dos obituários, um recurso estilístico bastante prezado pelos leitores. "O abrandamento codificado é uma arte, um dos prazeres de se ler e escrever obituários", afirma Marilyn Johnson. "Para muitos leitores, um dos charmes dos obituários está na deliberada opacidade de sua linguagem", diz Fergusson. A língua dos obits passou a ser uma espécie de brincadeira de esconde-esconde, um desafio à capacidade artesanal de cada obituarista e um momento para se servir aos cognoscenti ironias em bandejas de prata. Sir John Junor era um desastre dirigindo o Sunday Express. Ele foi o responsável pela debandada de uma multidão de leitores. Em seu obituário, no Daily Telegraph, lia-se: "Há espaço para se debater sobre o sucesso de Junor como editor".




Suicidas não entravam nos obituários do New York Times: esse tipo de morte pertencia a outro ramo de notícias. Hoje, uma regra no jornal obriga que se revele a causa mortis, o que em algumas ocasiões era propositadamente esquecido, sobretudo em casos de complicações decorrentes da aids (os obituários dos jornais britânicos, por outro lado, se eximiram da obrigação de dar a causa da morte: para eles, só interessa a vida do sujeito). O Times também não indica horário e local de velórios, enterros e cerimonias de cremação. E desde 2003, quando o jornal publicou precipitadamente o obituário de uma bailarina e atriz com dois anos de antecedência, instituiu uma cláusula rígida que manda identificar, no segundo parágrafo, a fonte que confirmou a informação de que a pessoa de fato morreu.

Curiosamente, a história dos obituários mudou graças a uma grande barriga: em 19 de setembro de 1818, o Nile's Weekly Register, um dos precursores da grande imprensa americana, deu erroneamente a notícia da morte acidental de Daniel Boone. O jornal retratou-se e, tempos depois, publicou uma longa explicação sobre o impacto que a falsa notícia da morte do homem das florestas, suposta vítima de seu rifle favorito, tinha causado no público de uma América que alargava as suas fronteiras. Os editores do Nile's teriam então vislumbrado o potencial para o jornalismo das crônicas sobre a vida de grandes homens que acabavam de morrer. 

Um dos primeiros nomes de destaque do radiojornalismo, o ex-Times-man Elmer Davis, cuja morte foi equivocadamente anunciada em jornais por duas vezes, tinha uma observação definitiva: "Um homem que leu o próprio obituário nunca mais será o mesmo". Ernest Hemingway também leu sobre sua morte na imprensa. Em janeiro de 1954, um pequeno avião em que ele viajava caiu na selva, em Uganda, e o piloto, ele e a mulher ficaram desaparecidos. Segundo Gay Talese, Hemingway adorou as matérias dos jornais sobre sua morte. "Ele colou todas elas num caderno e afirmava começar cada dia com 'um ritual matinal de uma taça de champanhe gelado e algumas páginas de obituários'."

O Times escapou da barriga por um triz. Dois dias depois do desaparecimento dos três, os editores resolveram considerá-los mortos. O obituário de Hemingway só não foi publicado porque, em cima da hora, chegou um despacho da Associated Press avisando que eles haviam sido encontrados vivos. Arthur Gelb, que trabalhou no Times por 45 anos, era, naqueles dias, o encarregado do obituário de Hemingway. Ele conta em seu livro City que, tendo conseguido algumas declarações importantes, achou que o escritor gostaria de saber como seria o seu obituário no jornal. Enviou as provas para Hemingway, que mandou uma mensagem em resposta, agradecendo-lhe "por deixar de fora todas as opiniões desairosas sobre o meu trabalho que você certamente recebeu". 

Gelb deveria saber que o que ele fez não era recomendado pelas normas internas do New York Times. O jornal não deixa ninguém ler seu próprio obituário. Mas ele também sabia que, de quando em quando, algum jornalista vazava a versão do Times para o dono daquela vida que o matutino mais importante do mundo estava tentando descrever. No livro, Gelb relata o pânico que bateu quando, em 1972, já então como editor metropolitano, descobriu que a pasta com o obituário do colunista mais famoso da América, Walter Winchell, que acabara de morrer, estava vazia. A "rádio peão" dizia que, doente, Winchell havia pedido ao jornalista do Times Jack Tell para ver seu obituário; como não gostou do que leu, destruiu o material. Alden Whitman escreveu um rápido obituário de duas colunas para a primeira edição, e, para as outras, redigiu um de seus clássicos sobre o homem que inventou "o estilo moderno de se escrever fofocas", sem esconder o gosto amargo do lado B da vida de Winchell.




A atividade de obituarista carrega suas ironias metafísicas. A maior delas talvez seja a de que muitos obituaristas têm o próprio obituário publicado antes do de alguns de seus obituariados, aos quais haviam dedicado muito suor e o melhor de seu talento. A, J. Liebling, o homem que tinha tinta de imprensa circulando pelas veias (e olhe que o corpo dele era uma edição de domingo farta em cadernos de classificados, o que dá uma boa noção do quanto gostava de jornalismo), dizia em um artigo chamado "Obits", de 1946, que os autores de obituários eram membros de uma tribo frustrada. Alguns de seus biografados ilustres simplesmente se recusavam a morrer, impedindo os leitores de admirar a alta qualidade da escrita que possuíam. "O falecido John D. Rockefeller, o velho, esgotou a paciência e contribuiu para o alcoolismo de três gerações de jornalistas." O pior, para o obituarista morto, é que seus textos serão revisados e atualizados por outro. Eis uma ocasião apropriada para se revirar no túmulo.

Em um trecho que mostra bem como eram os jornalistas da velha guarda, Gay Talese rememora em Sr. Má Notícia a angústia que os homens de imprensa experimentavam pela postergação de seus obituários, revelando que ela tinha um lado material muito concreto: muitos obituaristas eram freelancers e só recebiam o pagamento depois da matéria publicada. 

Bill McDonald, respondendo aos leitores do Times em um chat, cunhou uma frase sensível para essa situação: "O homem que é objeto do obituário ainda está vivo; o escritor que fez o obituário está morto. Talvez exista aí algum tipo de estranha e poética justiça". 



Os jornais também abandonaram o antigo preceito de mortuis nil nisi bonum — dos mortos, só falar bem — e começaram a dedicar mais linhas para o lado menos honroso das biografias. Consolidou-se a noção contemporânea de que os obituários de imprensa diferem das laudatórias homenagens póstumas. A partir da década de 80, graças a um sujeito chamado Hugh Massingberd — um estudioso da família real e da aristocracia, conhecedor de tudo o que diz respeito ao Fantasma da Ópera, que foi editor da página de obituários do Daily Telegraph, de Londres, entre 1986 e 1994 -, o humor e as pessoas que tiveram vida excêntrica se incorporaram definitivamente ao mundo dos obits.

O que é uma vida excêntrica?

Esta: "Denisa Lady Newborough, que morreu aos 79 anos, foi muitas coisas: equilibrista, garota de nightclub, stripper, aviadora. Ela se recusou apenas a ser duas coisas - prostituta e espiã 'e olhe que apareceram tentativas de me tornarem as duas', escreveu certa vez".

Ou esta: "Lorde Moyniham III, que morreu em Manila aos 55 anos, graças ao seu caráter e carreira forneceu ampla munição para aqueles que criticam o direito de hereditariedade. Embora suas principais ocupações fossem tocador de bongô, gerente de motel, contrabandista de drogas e informante da polícia, 'Tony' Moyniham clamava por outras áreas de expertise: 'negociador profissional', 'portador de mensagens de diplomacia internacional', 'manipulador de câmbio' e 'autoridade em rock & roll'".

Que tem esta sequência: "Se havia na vida de Moyniham um princípio norteador, ele poderia ser encontrado na parede de seu escritório em Manila, onde uma placa de metal ostentava o seguinte ensinamento: 'Das 36 maneiras de se evitar um desastre, dar no pé é a melhor delas'".

 

Massingberd usava o trecho final dos obituários para ensejar uma pequena parábola extraída daquilo que chamava de "colorido conto biográfico": "Lady Newborough era muito bonita, charmosa e engraçada. Pelos padrões convencionais, sua moralidade igualava-se à tintura vermelho-flamejante de seu cabelo, mas ela permaneceu orgulhosa tanto de uma quanto de outra".

Ele se tornou uma celebridade do jornalismo britânico, mas teve de parar de editar a página de obits do Daily Telegraph, em 1994, por causa de um infarto. Trocou então, segundo suas próprias palavras, uma cadeira dura na editoria de obituários pela chaise longue de crítico de tevê do jornal.



O Times londrino formatou o obituário clássico. Sua inspiração era o verbete de enciclopédia: impessoal, longo, formal no estilo, profícuo em fatos e, não raro, a versão mais conceituada sobre o lado público da vida de homens e mulheres que fizeram boa parte do século XX. Mas, em 1986, o lançamento do inovador jornal Independent acabou abrindo as portas para o que é hoje chamado de a "revolução dos obituários de Londres". James Fergusson, um vendedor de livros raros em Oxford, que havia se candidatado ao posto de editor literário do novo periódico, acabou sendo convidado para pensar em alguma coisa que renovasse a seção de obituários. Uma pequena mudança introduzida por ele, a assinatura regular das matérias da página, marcaria para sempre a maneira de se contar a vida dos mortos na Inglaterra.

O obituário deve ou não ser assinado? A revelação da autoria dá à página mais ou menos autonomia editorial? Qualquer que seja a posição dos editores sobre a eventual identificação do autor, o fato é que, do ponto de vista estilístico, a assinatura representou a quebra de um património — a solene "voz de ninguém , como nos editoriais — e uma libertação. Os obituários do Independent passaram a ser menos convencionais, mais opinativos e literários. A forte concorrência entre os jornais londrinos levou o Daily Telegraph, que havia sido adquirido pelo canadense Conrad Black em 1985, a convidar Hugh Massingberd para editar a sua seção de obits. A partir daí, os leitores passaram a ter na cidade (além do Times, do Independente do Telegraph, o Guardian também dedica um espaço diário aos obituários) o melhor cardápio mundial de relatos bem escritos sobre vidas interessantes que chegaram à estação final. 

Grande observadora de tudo, a revista Economist publicou uma matéria "Vida depois da morte" de três páginas, em 1994, sobre o que ela chamou de um novo cult: o obituário como entretenimento. A corrida aos obituários parecia refletir, diz o semanário, o fato de que "com contribuições, assinadas ou não, de destacados jornalistas literários e figuras públicas, os obituários são de longe mais bem escritos do que costumavam ser, e, também, de longe, mais bem escritos do que as outras páginas dos jornais de hoje: anedóticos, discursivos, e, ainda assim, elegantemente concisos; cultos, tocantes, e, de um modo afável, quase sempre extraordinariamente engraçados". 

A própria Economist não vacilou e pegou carona na onda do sucesso dos obituários. Bill Emmott, o editor que levou a publicação a 1 milhão de exemplares (metade dessa circulação nos Estados Unidos) e que pendurou as chuteiras em fevereiro de 2006, declarou certa vez que ela estava abstrata demais, precisando de um pouco de "humanidade". Foi aí que introduziu a página de obituários como uma maneira de "trazer gente — ainda que morta — para a revista". O obituário da Economist, anônimo como todo texto da semanal (quase todos os obits são escritos, sem preparação prévia, por Ann Wroe, como revela Marilyn Johnson em seu livro), tornou-se um dos clássicos do gênero, embora ele tenda um pouco para o que em língua inglesa se classifica como essay. Um de seus melhores momentos foi um obituário de Jesus Cristo. 




A jornalista e escritora Joan Didion teve uma relação de estranhamento com os obituários. Quando notou que sua agente literária Lynn Nesbit ligava para Christopher Lehmann-Haup, da seção de obituários do New York Times, ela tomou um choque de realidade em relação à morte do seu marido, o também jornalista e escritor John Gregory Dunne, que ocorrera poucas horas antes, às vésperas do Ano-Novo de 2004. "Eu conseguia encarar a idéia de uma 'autópsia', mas a idéia de 'obituário' ainda não tinha me ocorrido. 'Obituário', diferentemente de 'autópsia', que era algo que ficava só entre mim, John e o hospital, significava que aquilo tinha realmente acontecido", escreveu em O ano do pensamento mágico. Meses depois, ela descobriu por que os obituários a incomodavam tanto: "Eu permiti que outras pessoas soubessem que ele tinha morrido. Eu permiti que ele fosse enterrado vivo".

Uma vez jornalista, é difícil não agir como jornalista. A reação de Joan Didion ao telefonema de sua agente foi ligar para o amigo Tim Rutten, do Los Angeles Times: "Recordo-me de ter sido tomada por uma necessidade urgente de não deixar que ninguém do Los Angeles Times ficasse sabendo do acontecido pelo New York Times". Mesmo vivendo a imobilidade inicial ligada à morte muito próxima, bateu-lhe instintivamente um senso de justiça jornalística; não poderia permitir que o obituário de um jornal da costa leste furasse o de outro, da costa oeste. 

Há concorrência entre as páginas de obituários. Stephen Miller, um sobrevivente do desmoronamento das torres do World Trade Center, que antes de ser o obituarista do renascido The New York Sun fazia para o próprio deleite obituários em um website de sua propriedade (Good-bye), não escreve sobre mortos que o New York Times já deu. Em Londres, onde existe um grande fascínio pela biografia curta, há uma voracidade na busca por vidas fascinantes: "Uma das virtudes do mercado britânico de jornais é que ele pode acomodar quatro grandes jornais que devotam generosos espaços para seus obituários, cada um deles publicando entre três a cinco por dia, raramente sobre os mesmos sujeitos, escreveu James Fergusson em Death and the press. 



Um bom obituarista aposta tudo num aposto. Com o passar do tempo, fixou-se a forma de tirar o máximo efeito das palavras que, na primeira frase, após a menção do nome do morto, qualificam e dão tempero à sua existência terrena. Robert McG. Thomas Jr., o autor de obituários com mais textos selecionados para este volume, conferiu enorme clareza ao gênero ao fixar  definitivamente o epíteto longo, no parágrafo inaugural, como o momento decisivo de um obituário. No New York Times, para o qual escreveu 657 obits, o aposto é chamado de "a cláusula Quem". Mais do que consolidá-lo como fórmula, McG. elevou-o a um requinte literário: ele define uma vida logo de cara, coisa dificílima de se fazer, e enlaça algumas promessas, promessas que vão se revelando ao longo do texto. Com os chamados McGs, os obituários bateram à porta de são Pedro. 

Chris Calhoun, que organizou a antologia de obituários escritos por McG., diz que a idéia de fazer o livro surgiu porque o clipe que colecionava das páginas do Times com os McGs originais já estava imprestável. Ao notar a prolongada ausência de sua assinatura no jornal, descobriu que McG. estava disputando a vida com um câncer de abdômen. Escreveu-lhe uma carta de fã, dizendo que tinha um grupo de amigos que colecionavam e distribuíam seus obituários. Semanas depois, soube que sua carta ficou fixada na parede do hospital onde ele passou seus últimos dias. A carta também seria lida no funeral do "cronista das vidas anônimas", como McG. foi chamado em seu próprio obituário publicado no Times. 

 

 

Como as fábulas, os obituários ensejam uma lição moral para os que ficam, seja a vida do biografado boa ou má. Os melhores obituaristas desempenham o papel de pequenos deuses ao dar o sopro de novas vidas, pelo curto espaço da leitura de suas peças, àqueles que acabaram de morrer (algumas vezes, quando julgam merecido, eles matam a reputação da pessoa pela segunda vez). Quando um obituarista acerta a mão, chega a dar imortalidade a certas coisas que, sem ele, seriam singelamente irrelevantes: 


Quando os clientes tocavam a campainha para fazer pedidos, o [produtor de 367 variedades de batata Donald MacLean] conversava com eles para se certificar de que eram idôneos — um teste de caráter, como se ele estivesse colocando crianças para adoção. Ele achava que se as pessoas descobrissem a qualidade que existe em uma pequenina esfera de vida, elas seriam capazes de reconhecer qualidade em tudo o mais - televisão, livros, política, atitudes sociais. Esse desígnio estava por trás de sua tarefa interminável de empacotamento de pequenos pedidos. A salvação pelas batatas. 


E, de vez em quando, pelo jornalismo. 




SUZUKI JR., Matinas. O Livro das Vidas: obituários do New York Times. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 289-310.

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